»Mede-se a importância das pessoas pela qualidade dos seus sapatos, roupas e carteiras.
»Dá-se mais atenção ao que possui a casa mais requintada ou situada nos bairros mais famosos e ricos.
»Tornamo-nos, enfim, escravos dos objectos. Objectos de desejo que dominam o nosso imaginário, que impregnam a nossa vida, que consomem os nossos recursos monetários.
»E como reagimos? Será que estamos a fazer algo - na prática - para combater esse estado de coisas?
»No entanto, está nos desejos a grande fonte da nossa tragédia humana. Se superarmos a vontade de ter coisas, já teremos caminhado muitos passos na estrada do progresso moral.
»Por um momento apenas, não se deixe seduzir. Tente ver tudo isso apenas como são: objectos.
»Lembre-se: é por desejar tais coisas, sem poder tê-las, que muitos optam pelo crime. Apossam-se de coisas que não são suas, seduzidos pelo brilho passageiro das coisas materiais.
»Deixam para trás gente sofrendo, pessoas que trabalharam arduamente para economizar...
»Deixam atrás de si frustração, infelicidade, revolta.
»Manifestam, a toda a hora, possessividade e insegurança. Extravasam egoísmo e não permitem ao outro se expressar ou ser amado por outras pessoas.
ȃ, mais uma vez, o desejo norteando a vida, reduzindo as pessoas a tiranos, tornando feias as almas.
»Há, por fim, os que se deixam apegar doentiamente às situações.
»Esses amam o brilho, o aplauso ou o que consideram fama, poder e glória.
»Para eles, é difícil despedir-se desse momento em que deixam de ser pessoas comuns e passam a ser notados, comentados, e invejados.
»Qual o segredo para se libertar de tudo isso? A palavra é desapego. Mas... Como alcançá-lo neste mundo?
»Na prática, funciona assim: pense que as situações passam, os objectos partem-se, as roupas e sapatos gastam-se.
»Até mesmo as pessoas passam, pois elas viajam, separam-se de nós, e morrem...
»E devemos estar preparados para essas eventualidades. É a dinâmica da vida.
»Pensando dessa forma, aos poucos a criatura promove uma auto-educação que a ensina a buscar sempre o melhor, mas sem gerar qualquer apego egoísta.
»Ou seja, amar sem exigir nada em troca.»
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