Fala-se de crise, mas o que é a crise nos
dias de hoje?
Dizem-nos, basicamente, que a crise é a falta de dinheiro! Mas qual falta de
dinheiro!?
Cada vez há mais dinheiro no mundo do que aquele que havia no passado, mesmo que
seja virtual, mesmo que não exista na realidade, e seja apenas uma falácia
bancária. É verdade que dum ponto de vista real falta o dinheiro vivo, mas as
coisas funcionaram bem, mesmo numa situação idêntica de falta de dinheiro palpável,
tangível. Tudo funcionava bem porque as pessoas queriam que as coisas assim
funcionassem. Mas isto são questões económico-financeiras que dariam
pano-para-mangas (ou ainda, que fariam correr muita tinta).
Vejamos, então, de que se trata a crise
actual. Há quem diga: a crise surge duma falta de valores! Falar em valores
quase me leva a pensar nos valores monetários, mas as pessoas referem-se aos valores
como sendo os éticos, e os morais, ou seja, falta ética, e isso gera uma crise
de valores. Eu uso uma outra expressão: a crise é a falta de consciência. Durante
esta falsa crise, que serve para enganar uns e beneficiar outros, há quem se
deixe enganar (por ignorância, ou deliberadamente) e escolha defender valores e
bens materiais desprezando as pessoas.
Diz-se na Europa que os países mais
pobres, e endividados, têm de pagar aquilo que devem, têm de pagar os
montantes que os obrigaram a pedir emprestado para que resolvessem a “crise” vivida
nos territórios dos outros, e que esses valores têm de ser pagos com juros elevados,
à custa da vida dos seus habitantes. Se alguém empresta, acha que tem que ter
um retorno com lucro, pouco importa que centenas de milhares de pessoas fiquem
sem empregos, sem sustento, sem casa e com fome, nem que muitas delas se
suicidem, ou acabem por morrer, vítimas de já não terem dinheiro para os
cuidados básicos de saúde ou, simplesmente, de sobrevivência.
Então, eu pergunto: onde é que fica a
consciência daqueles que exigem dinheiro (antigamente chamavam-se escroques,
vigaristas, gente sem escrúpulos, a essas pessoas), ou, como fica a consciência,
daqueles que – estando do lado dos devedores – dizem, como se também fossem credores,
que “temos de pagar aquilo que devemos”?
O dinheiro é mau? Tem alguma utilidade?
Claro que o dinheiro não é mau, nem bom, é
simplesmente um instrumento útil que serve para que as pessoa possam trocar
bens, entre si, mais facilmente do que se fizessem trocas directas, trocando
alfaces por um automóvel, por exemplo. Com o dinheiro estabelece-se um valor
para cada coisa, e esse é o montante que cada um terá que conseguir reunir para
obter o que deseja adquirir. O dinheiro é útil mas não é a coisa mais importante,
porque ele apenas tem a utilidade de servir os seres humanos. Se dermos mais importância
ao utensílio do que às pessoas, então, sim, teremos uma crise, porque sem
pessoas o utensílio não tem valor. E se algumas pessoas, poucas em relação à
maioria, decidem que o dinheiro é mais importante do que o preço duma vida
humana, então, elas não têm consciência. Se, mesmo uma maioria, decidir que o
dinheiro é mais importante do que uma minoria da população, então, também não
terão consciência, e em nenhum dos casos terão percebido o que é a Vida no
nosso Planeta, nem para que serve. Como eu costumo dizer: “temos pena!”.
A grande questão será: o que é a Vida, por
que estaremos aqui?
Os cientistas já perceberam que a Vida é
um processo natural, embora ainda não tenham percebido a sua origem. A sua
utilidade, já que de forma científica não pode ser explicada, então, só poderá
encontrar uma justificação espiritual. Essa justificação, mesmo que simplista,
poderá definir a vida como um processo evolutivo de experiência e aprendizagem.
Ao longo da nossa vida passamos por diversas experiências e aprendemos muitas
coisas. Assim aconteceu com os minerais, com as plantas, com os seres
unicelulares, com as bactérias, micróbios e sistemas mais complexos de vida
como sejam os animais, nomeadamente os mamíferos e os seres humanos incluídos naquela
categoria animal. O ser humano está entre os mais complexos, não por ser
superior aos demais, mas, sim, por ter uma capacidade de consciência diferente
da dos restantes. Infelizmente, essa capacidade humana nem sempre é usada e
podemos ver pessoas com comportamentos piores do que os dalguns animais. Só podemos
concluir que nem todos os humanos são tão evoluídos com alguns animais, mas,
pelo menos, possuem a capacidade de compreensão, embora não a usem a 100%.
Com a capacidade de compreensão, e com a
consciência, os seres humanos poderão desenvolver muitas outras capacidades
como, por exemplo, a compaixão, a empatia pelos outros seres e por aquilo que
eles passam como se estivesse acontecer consigo mesmos. Quando olhamos os
elementos da Natureza, como os animais, por exemplo, numa luta por alimento,
que é a forma de se manterem vivos, conseguimos perceber que nem todos os seres
humanos precisam e agir assim, alguns há, e infelizmente bastantes, que nada
têm que comer, mas outros nem precisam de lutar para se alimentarem. Esta última
capacidade, a de não ter que lutar por comida, poderia ser extensível a todos,
se as pessoas usassem a compreensão, a consciência e a compaixão. Não falo aqui
do Amor, porque é algo que a maioria das pessoas ainda tem alguma dificuldade
em compreender. Deixemos o Amor para outros momentos.
Pensemos apenas na “crise” e na
compaixão. A actual conjuntura negativa, que alguns países estão a viver,
permite que as pessoas reflictam e percebam que a ganância e o egoísmo está a
prejudicar a sociedade como um todo. Então, há uma oportunidade para as pessoas
se tornarem mais solidárias e entreajudarem-se. É verdade que muitas pessoas
não gostam de dizer que estão mal e pedir ajuda, pois acreditam que isso é
demonstrar o seu próprio fracasso perante os outros. Isso não é verdade. Se alguns
fracassam é porque outros, também, assim desejam que aconteça. Aprender a pedir
ajuda é uma lição de humildade, e saber ajudar de forma desinteressada é
compaixão. Todos podem aprender alguma coisa e ao mesmo tempo ajudarem a
sociedade a evoluir em conjunto, ajudando-se a si mesmos e aprendendo as lições
disponíveis.
Esta crise não se resolverá por destituir
alguns políticos e colocar outros no seu lugar. Esta crise poderá resolver-se quando
as pessoas se tornarem mais conscientes e solidárias, isso irá propagar-se e
influenciar cada vez mais gente que passarão a aplicar o lema: faz aos outros o
que gostarias que te fizessem, sem medo, e sem vergonha, de seres feliz!